Conto. Tarde com meretrizes



Tarde Alegre com Meretrizes.
( conto de Fábio Clemente).
Nos anos 60, aos domingos à tarde, Flavinho com seu amigo Marcos, este experiente e mais vivido, costumavam visitar as pensões alegres das moças oxigenadas de loiras, no baixo meretrício do Recife.
Os dois amigos, religiosamente, após assistirem a missa dominical, na Igreja de Nossa Senhora da Paz, no bairro de Afogados, voltavam conversando, fazendo planos de visitar as lindas prostitutas, alojadas em pensões da luz vermelha, na zona portuária do Recife.
Já em suas casas, tomavam banho, colocavam perfumes e vestiam roupas novas e bem passadas, ficam lordes, como se dizia na época de 1960 e mais.
O pai e a mãe, chamavam todos para o tradicional almoço em família.
No domingo era servido a galinha caipira e gorda, servada com milho no quintal, por meses, pela serviçal, considerada como pessoa da casa, era criada...
Após agradecer a Deus a farta comida posta na mesa, o pai era primeiro a ser servido.
As melhores partes da galinha cozida na própria gordura, pertencia por direito ao dono da casa, naquele tempo...
A família já refastelada com os quitutes, feitos com amor pela matriarca, estava satisfeita e todos sonolentos.
Os pais cochilam após o almoço de domingo, era um ritual.
Antes da sesta a mãe gentil, servia aos apresentes na longa mesas de 12 lugares, a sobre-mesa, sempre doce de leite e goiaba manipulados em casa, no belo fogão de lenha e panelas de barro.
O primeiro a terminar a completa refeição era o rapazinho Flavinho, apressado para ir viver uma tarde sensual na pensão das moças fogosas e risonhas da zona do cais do Recife.
O jovem Marcos, já esperando sentado na sala de visitas, amigo Flavinho.
Os dois amigos estavam prontos e perfumados para embarcar a procura dos amores das mensalinas, nas velhas pensões das escadas de madeira e íngremes, construídas século passado.
Os dois aventureiros, diziam aos ingênuos país, que iam assistir a matinê com seriado do Zorro, na época imperdível, em cinema no centro do Recife.
Se despediam da família, e a pé, marchavam em direção ao ônibus elétrico, pagando passagem de estudante, até o destino programado da divertida vadiagem, naquela tarde de sol brilhante.
O dinheirinho da mesada era contado e muito pouco para suprir as farras e orgias, com as experientes mulheres da vida, assim eram conhecidas as profissionais do sexo, na década de 60.
No ônibus os dois mancebos faziam projeto de primeiro paquerar as moças alegres, dançando no salão da pensão, ao som da radiola de ficha.
A moda as músicas para bailar, entre muitas, as melhores eram de Waldic Soriano ou Nelson Gonçalves, retratando amores impossíveis e perdidos nas esquinas da vida...
O objetivo daquele dançar com as moças perdidas, era pagar menos pelo programa do possível sexo, em quartos alugados na própria pensão alegre e de luz vermelha.
Fechado a estratégia da diversão, ainda no banco do silencioso ônibus elétrico, chegavam ao destino e ponto terminal, a conhecida zona portuária da cidade dos Mascates, Recife antigo.
Era a hora de descer e caminhar a pé, felizes por iniciar a aventura permitida, até então, aos homens maduros.
Os dois jovens colegiais, já conhecidos das incautas putas, e como excelentes “pés de valsa”.
Aos presentes os comprimentos de boa tarde, educadamente, com sorrisos maliciosos para as mulheres da vida.
Além da diversão no salão, os jovens, imitando homens feitos ou maduros, chamavam as convivas para tomar cervejas, bem geladas, numa mesa bem localizado na pista de dança.
O convite era bem aceito pelo perdido mulherio, naquele calor da tarde escaldante de verão nordestino, tomar cervejas, era privilégio.
O sol ia baixando e a tarde despede-se aos poucos da alegre matinê de dançar, boas risadas, beber cerveja e muita conversa a fiada, na companhia das pelas meretrizes da zona do Recife.
É chegada a hora de convencer a mulher-dama em fazer sexo, pela amizade, ou pagar apenas o aluguel da quarto de cama estreita, sem banheiro higiênico.
Após o balanço financeiro dos bolsos das calças, Flavinho e Marcos, enxergam somente o dinheiro de pagar por 1/4 da conta das cervejas.
Não tinha dinheiro para liquidar o custo das fichas da radiola e os tira gostos e ainda vodka pedida pelos mulherões.
Ainda tinha que sobrar numerário para as meias-passagem da volta de ônibus elétrico, era mais barato que o velho trem.
As moças recusam a se entregar na cama, aos dois jovens, sem o pagamento adiantado, pois era norma da casa, receber do freguês antes, assim evitavam o calote ou “liso seixo”, como apelidado.
As mercadoras do sexo, por amizade, e por ter dançado toda tarde, além de encherem a cara de cerveja, também colocar músicas de paixão não resolvida, na radiola de ficha, propuseram o seguinte negócio:
- elas afiançavam os dois quartos e copulam com Flavinho e Marcos, já conhecidos da dona da pensão.
Levaram o negócio para ser resolvido pela dona da pensão, alertando que dona Donzila, ia querer garantia extra.
Após a explicação do fato, Donzila, experiente rapariga da zona, com olhos atentos no braço de Marcos, e alisou seu relógio de marca Mido, e disse:
deixe o relógio e o documento identidade empunhados, no “pendura”, eu aceito pela conta.
Os dois jovens pendem licença a Donzila, e no canto do salão combinam outro negócio.
Aquele relógio de marca Mído era do pai de Marcos, ele tirado tomado emprestado naquela tarde para desfilar elegante e aparecer mais imponente e bem de vida, na pensão de Donzila.
A velha alcoviteira Donzila, era respeitada por todos, naquele estabelecimento de alegria e diversão sensuais, na zona portuária do Recife.
Marcos não podia chegar em casa sem o relógio do pai.
Com o rosto triste confessou acDonzila, que o possante relógio não lhe pertencia, mas ao seu pai.
Então Donzila, já na mesa, participando da negociação, com sua larga experiência, fez outra proposta:
Flavinho e Marcos substituíssem o empenho do relógio por outro objeto para cobrir todas as despesas, inclusive de uma hora dos dois quartos.
Donzila, matreira no comércio da prostituição, olhava fixamente e os cordões de ouro, pendurados nos pescoços Flavinho e Marcos.
Os rapazes, ja apavorados, pelo avançar da hora, acertaram entregar ao “empenho” seus cordões de ouro, juntamente, com as carteiras de identidade.
Foi prontamente aceito o negócio ora proposto.
Donzila retirou de Flavinho e Marcos, com cuidados as joias, e as colocou em seu sutian, o cofre de emergência da cafetina.
Marcos mais sabido, alertou que tivesse cuidado, pois foi presente do seu aniversário de 18 anos, recente.
Levou a seguir a mulher-dama em
direção os quarto-pardeiro, chegando na porta, ela tirou a chave do sutian, e disse-lhe - vamos logo, tenho clientes logo mais...
No quarto vizinho estava Flavinho, com a outra mulher, e pela meia parede indagou a Marcos - “o que vou dizer em casa, quando chegar sem meu cordão de ouro...”
Marcos, prontamente respondeu: vai logo rapaz come essa puta, temos menos de meia hora.
Para em seguida dizer: “ diz em casa que emprestou o cordão ao meu irmão Marlos, aí fica tudo certo...”.
Após os atos libidinosos os dois saíram correndo da pensão, até encontrar o ônibus, da hora certa, para chegar em casa.
Se perdessem aquele ônibus, não podiam voltar a tempo de jantar com a Familia, já desconfiada das farras vespertinas domingueiras da dupla de peraltas.
No outro dia, Marcos e Flavinho, no bairro de Afogados, onde residiam, reuniram uns 10 colegas para narrar aventura vivida na zona, no dia anterior.
Anchos da vida e cheios de orgulho por serem os únicos rapazes da rua, a perpetrarem tal orgia, no baixo meretrício do Recife.
Contaram aos amigos toda a farra, nos mínimos detalhes, até as sacanagens na alcova das moças da noite, neste caso da tarde alegre.
Um dos rapazes ouvintes, no final da fantástica história de aventura, perguntou:
e a conta quanto foi? cara ou barata?
Marcos olhou para Flavinho, desconfiado, e na hora respondeu:
nem sei o valor, porque dinheiro é feito para de gastar...kkkk.
No outro domingo, após todo o ritual do almoço familiar, os dois amigos, seguiram no mesmo ônibus elétrico, até a famosa pensão Astória, da alcoviteira Donzila.
Subiram as velhas escadas, os degraus soltos e fazendo zoada, desta vez, parecia escalar em direção ao enforcamento no patíbulo.
O medo para falar e explicar que não trazia o dinheiro de Donzila, dominava a cena...
Marcos e Flavinho não tinham conseguido o dinheiro para tirar do prego os cordões de ouro e nem os documentos empenhados, no último domingo.
Já na porta da pensão, ouviram as famosas músicas de triste lamento, tocadas na mesma radiola da famosa pensão-cabaré.
Adentrando no pervertido recinto, dar de cara com Mariinha e Creusa, as mesmas mulheres da orgia passada.
As damas da noite, olharam para Marcos e Flavinho, ainda em pé na porta, e fizeram que não os conheciam, dando de lado.
As duas matrizes estavam numa mesa com seus marinheiros, recém chegados no cais de Porto, em navio de bandeira americana.
Os marinhos gringos bancavam e pagavam tudo, eram cheios de “dólares”, para gastar sem limites...
Nesse ínterim aproximou-se a velha Donzila, com gesto frio, perguntou: rapazes - não vão entrar para a gente conversar.
Marcos, ligeiro, disse-lhe:
não dona Donzila, viemos apenas para dizer que só temos seu dinheiro hoje, ainda estamos juntando!
A senhora sabe como é vida de estudante:
recebe mesada pouca e por semana.
Donzila, vivida no comércio da prostituição, retrancou e olhando nos olhos dos rapazes, ainda em pé, na porta.
Avisou - só espero até a próxima semana, senão, irei dar de presente os cordões de ouro ao Toinho, meu amante e amor.
Neste instante chega para perto do trio, um mulato grandalhão, parecendo um armário de 4 portas, de tão forte, parecia anormal.
Donzila pegou pelo braço e falou ao Marcos e Flavinho, continuando ainda em pé na porta da pensão - este é o meu Toinho, que gostou do cordão de ouro...
Os dois inexperientes rapazes estendendo a mão falaram:
muito prazer seu Tonhão, como o senhor gosta de puro ouro, viemos dizer que esses cordões, são banhados a ouro, não são de ouro 24 quilates, apontando para o cordão no pescoço do gigante mulato,
Marcos ainda falou - esse aí não tem valor comercial, não é ouro maciço.
Só tem valor para mim, de maneira sentimental, como presente da Familia, em meu aniversário.
A mesma coisa é também o cordão falsificado de Flavinho.
Tonhão, gigolô, de Donzila, respondeu:
vocês tem uma semana para tirar do “pendura”, suas semi-joias ou vendo a qualquer marinheiro ou a qualquer trouxa e bebedor que aparecer na pensão de Donzila.
Da porta mesmo Marcos e Flavinho agradeceram a proposta, e desceram as escadas fazendo projeto de conseguir aquele pagamento, em uma semana.
Já de volta ônibus, surgiu a ideia de vender suas coleções de times de botão, campeões nos torneios no bairro de Afogados e adjacências...
Ficaram sem seus times de botões de ossos, produzido na secular Casa de Detenção.
Com o dinheiro resgataram os cordões, de posse, descendo as velhas escadas da pensão, na Avenida Rio Branco, um olhou para o outro, aberturas as mais e disseram em voz baixa:
Se Donzila e Tonhão soubessem que nossos cordões são de ouro puro, de 24 quilates, com certeza estaríamos sem eles, e encrencados em casa.
No outro domingo, após aquele bom e farto almoço, Flavinho olhou para seu amigo Marcos, e sentenciou: “ desta vez iremos mesmo ao seriado do Zorro, no Cinema Moderno, assistir ao matinê, senhor Dom Diego, e Marcos, rindo respondeu - tá certo amigo-Bernardo”, o mudo.
Kkkkkkk.




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