Por volta dos anos 78 numa pequena cidade do estado de Minas Gerais mas preciso
em Conceição de Ipanema onde eu vivi até os anos 2015.Era uma cidade cheia de
árvores plantadas em volta de toda cidade que se resumia em poucas ruas e duas
avenidas com uma praça, uma matriz ao topo de um morro, e um lindo jardim cheio
de bancos e muitas flores e palmeiras. Na praça o famoso bancão que faz o
contorno da praça e uma velha alameda, tinha uma enorme árvore próximo a esta
alameda. Quando tinha missa na matriz o alto falante era ligado e cantava
músicas de padre Zezinho durante uma hora, desde longe se ouvia. Havia uma
agência dos correios e um posto do banco nacional, uma agência da caixa,
existia apenas as igrejas mais grandes como Batista nacional e Presbiteriana,
depois foram surgindo outras denominações. As escolas era apenas duas uma bem
velho onde estudei os primeiros anos, e uma escola feita de latão onde
esquentava muito, cheguei a estudar lá. Com o tempo passei a estudar no prédio
onde funciona até hoje a escola municipal. Hoje existe uma escola estadual e
uma escola nucleada. Nesta época existia apenas uma mini mercearia do Sanico e
um armarinho do Ninico. Tudo que a gente precisava comprava no Ninico ou
Sanico. Foi lá que passei minha infância num pequeno sítio na zona rural
próximo a cidade, a gente vivia como se fosse uma comunidade, era a minha casa,
as de mais duas tias e a fazenda de meu avô, e os meeiros que moravam no sítio
de meu avô, quando a gente ia pra escola era uma turminha de crianças que
andavam a pé 04 km todas os dias, uma turma de mais velhos estudavam pela
manhã, a turma onde eu ia junto estudava a tarde, a gente saia de casa por
volta de 10:50 e retornava as 17:30 isto era todas as tardes com chuva ou sol.
Nas manhãs tinha que cuidar dos afazeres que era debulhar milho para os porcos
e galinhas, soltar os cabritos para o pasto, tirar o leite da vaca cumbuca. E
quando estava sem aula a gente brincava de balanço nos galhos da cutieira, não
existia água em torneiras buscava água de mina para cozinhar lavar e limpar
casa, depois com o tempo encanamos água vinda de uma cachoeira.
Nós
brincávamos no terreiro da casa que era grande, as brincadeiras eram saudáveis
e sem maldades, era as seguintes brincadeiras, corre cutia, pique bandeira,
direito está vago, passar anel, jogar queimada, pique esconde, e cantava
rodinhas como papagaio louro, bela viúva, canta laranja., entre outras. Era um
tempo bom que a gente era feliz e não sabia. Tinha muitas frutas como goiaba,
manga, jaca e mexerica, laranja e muito coco. A gente subia nos galhos de
goiaba e ficava contando histórias por horas as vezes. Todo tempo de minha
infância eu me lembro, sinto saudade de todas crianças que faziam parte de toda
história, e na medida que a gente ia crescendo e outros nasciam era um grupo
animado de meninas e meninos. Uma vez quando fomos buscar o cavalo alazão no
alto de um morro onde era difícil andar a pé eu e minha irmã montamos no cavalo
e ele disparou conosco nos dando um tombo que ralamos toda e a gente não podia
contar como caímos, caso contasse ainda apanhávamos de nosso pai. Foi uma
infância boa um pouco sofrida, mas sempre juntos e minha mãe era uma pessoa
doce, exemplo de mãe e ser humano. Na fazenda onde fui morar com minha avó
quando tinha 11 anos era grande tinha muitos cômodos era toda feita de madeira
desde o chão até o forro, cada cômodo era uma cortina na porta e uma enorme
janela de bandeiras com vários trincos para fechar, tinha o alpendre com dois
bancos onde sentávamos todas as tardes e ficávamos horas olhando o movimento
dos bois nos pastos e da estrada onde circulava os carros da época que eram rurais,
jipe, Kombi, alguns caminhões e picapes.
Na fazenda eu permaneci até arranjar
namorado, depois voltei para casa de minha mãe, meu pai e minha irmã sempre iam
a cidade a noite as vezes eu ia junto, a charrete levava três pessoas, as vezes
até 05 dependendo do tamanho e da distância. Quando aos domingos íamos na
igreja eu e minha irmã junto com minha tia Hortência e as primas Alzira, Luzia
e Luís, a gente assistia a missa e depois dava uma voltinha na praça e voltava para
casa, sempre que fosse apenas eu e tia Hortência o padre Humberto conhecido
como Betinho levava a gente em casa depois da missa ia de fusca. Inúmeras vezes
ganhamos carona com ele assim, minha tia gostava muito de rezar e as vezes
ficava um pouco tarde para nós voltarmos, não que sentisse medo, mas ele achava
por bem nos levar em seu fusca, sua mãe vó Elcira como a chamavam era muito boa
e recomendava ele nos levar. A família Couto, Isidoro, Castro, Oliveira, eram
todas da mesma família irmãs de minha mãe casadas que moravam todas próximo a
fazenda, as famílias Pereira Santos e Sombra Santos eram meeiros, a família Alves
Carvalho eram donos da fazenda vizinha, na qual as três mulheres da casa são
minhas madrinhas, Madrinhas que amo e trago guardadas em meu coração, Aldenira,
Ressica, Cesia, a mãe e duas filhas estas madrinhas me ajudarão muito em minha
vida até eu me casar, depois que casei morei nas terras dela ainda por um
tempo. As coisas da infância por mais tempo que passe a gente nunca esquecem.
Que saudade eu sinto da aquele lugar, do cachorro leão e fiel, dos bois recreio
e retrato, presidente e diamante eles eram mansos e eu candiava eles para meu
pai puxar madeira e milho da roça. Tinha as vacas cumbuca e combuquinha que
morreram no pasto, o cavalo alazão e o consolo, o engenho de moer cana com a
tacha de fazer rapadura. São coisas que ficam vivas na lembrança.
Texto de Luzia Couto. Direitos Autorais Reservados a autora. Proibida a cópia, colagem, reprodução de qualquer espécie ou divulgação de qualquer natureza, do todo ou parte dele sem autorização prévia e expressa da autora. Os Direitos estão assegurados nas Leis brasileiras e internacionais de proteção à propriedade intelectual e o desrespeito estará sujeito à aplicação das sanções penais cabíveis.